29.3.09

ROMEU NARDINI


INTERLAGOS. O Velho traçado de volta?
Amigos da Campanha Pró reativação do Autódromo de Interlagos, eu nunca me conformei com a destruição do velho traçado do nosso Templo, para satisfazer as exigências da F-1.
Sempre fui da opinião que para atualizar a pista, não era necessário também, destruir aquele maravilhoso circuito com seus 7.948 metros seletivos e tão variados que nos foi entregue pelo engenheiro/empresário inglês, Luiz Romero Sanson em Maio de 1940.
Sempre estranhei que por vários anos, poucas pessoas se manifestaram e se posicionaram contra esse crime praticado contra o nosso Autódromo mais importante.
Por volta do ano de 2000/2001 a internet entrou definitivamente na minha vida e eu comecei a descobrir que começavam a surgir sites e pessoas que tinham os mesmos gostos, as mesmas preferências pelos esportes motorizados, que tanto sucumbiam sob as avalanches preferenciais provocadas pelo país do futebol.
Sim, ainda somos uma minoria insignificante se compararmos as corridas de automóveis, motos e provas de Rali, com o chamado ludopédio ou esporte bretão.
Mas quando comecei a dar minhas opiniões sobre o “estupro” sofrido pelo Autódromo, no então também recém criado site GP Total dos meus amigos Eduardo Correa e Pandini, percebi uma tímida reação, de uns poucos participantes do site que repartiam comigo as mesmas reclamações.
E eu pensava, pô! Será que eu estou sozinho nessa? Ninguém mais percebeu o que fizeram com o nosso sagrado autódromo?
O tempo foi passando, vieram as corridas da SuperClassic, onde um grupo maior foi se formando em torno das participações do DKW #96 do Flavio Gomes e pude conhecer ali, um bando de aficionados pelas corridas e principalmente um grande numero de pessoas que tinham em comum a paixão por Interlagos, gente que com certeza havia estado ao meu lado há mais de 40 anos atrás, enfrentando as mesmas dificuldades e peripécias para ficar junto dos nossos ídolos e maquinas.
Gente que como eu, furou cercas de arame farpado, fugiu de policiais e cavalarianos da Força Publica (atual PM), correu de fiscais de pista, seguranças, etc.
Esses encontros da SuperClassic que batizamos de Farnel, acabou aproximando também alguns pilotos da velha guarda, que com muita simpatia chegavam contando histórias, peripécias da época, suas participações em provas e até revelando segredinhos de bastidores.
Em 2007 em um evento chamado Clássicos de Competição essa aproximação entre antigos pilotos com seus velhos e novos fãs atingiu o auge, com a participação de um número bem maior de pilotos, alguns vindos inclusive de outros estados e deixando todos nós em puro êxtase.
Quando eu ia imaginar, por exemplo, que iria ficar lado a lado com o meu primeiro ídolo no automobilismo Bird Clemente, mais de 40 anos depois.
E nesse evento pudemos tomar conhecimento de um movimento de reativação do velho traçado de Interlagos através do Chiquinho Lameirão, que numa conversa descontraída, nos mostrou a viabilidade do projeto, suas possibilidades, seus obstáculos, etc.
Foi muito bom perceber então, que mais (e muito mais) gente pensava como eu e os outros antigos fãs do automobilismo brasileiro.
E desta vez, gente do ramo, gente que correu naquele maravilhoso circuito, que viu nascer a indústria automobilística brasileira e com ela fez crescer ainda mais a nossa paixão pelas corridas.
Hoje estou muito feliz com esse movimento, essa mobilização de pilotos como o próprio Chiquinho, o Bird, o Bob, o Ingo, o Paulão Gomes, pessoas do ramo, que disputaram freadas, dividiram curvas, perderam, venceram, quebraram, profundos conhecedores daquele pedaço de asfalto e que agora estão tentando viabilizar uma idéia que não tem nada de mais, a não ser devolver ao apaixonado freqüentador do Templo, se não em sua totalidade, pelo menos bons trechos do saudoso traçado de quase oito quilômetros.
Eu que tomei conhecimento do Autódromo de Interlagos em meados dos anos 50, em um ensolarado domingo a tarde, a bordo de um Standard Vanguard carro que mais parecia um ovo de avestruz, dirigido por um tio meu fanático por corridas e que depois de pagar uma irrisória taxinha ao cidadão que tomava conta do já surrado portão de madeira que dava acesso à pista, nos liberou para as extasiantes voltas pelo Templo.
Me lembro da impressionante (para mim) inclinação da curva três.
Era pra chorar.
Tempos depois, pelas mãos desse mesmo tio, pude assistir a um espetáculo inesquecível para mim até hoje:
A largada das I Mil Milhas Brasileiras numa noite de Novembro de 1956.
Dali em diante, nunca mais me afastei do Autódromo do coração, onde vi de tudo um pouco, corridas memoráveis, pilotos idem, vitorias inesquecíveis, de Camillo, Landi, Luizinho, Bird, Gancia, Emerson, Pace, Senna, entre outros.
Tomei muito sol, muita chuva, banhos com a água do lago, das mangueiras dos bombeiros, e até garrafadas vindas das arquibancadas, madrugada á dentro, a espera da F-1 em seus primeiros anos de realização.
Por isso considero esse movimento pela recuperação do Autódromo José Carlos Pace, em termos esportivos, a coisa mais importante para o nosso Estado e com essa mobilização e união de pilotos e “doentes” pelo antigo traçado, acredito que desta vez poderemos conseguir realizar um sonho que não parece, mas é de muitos!
Estou à disposição para ajudar a tornar esse sonho, uma realidade.
Abraços a todos
Romeu Nardini.

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